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Embora a partida tivesse como principal atrativo os talentos individuais e a exuberância das jogadas que certamente viriam a ocorrer, uma batalha sutil estaria ocorrendo na mente de cada um dos atletas envolvidos na disputa. E esses aspectos certamente viriam a ser cruciais para o desfecho da partida. _ Pete Carroll

O best-seller O Jogo Interior do Tênis de W. Timothy Gallwey é um dos precursores do coaching, a partir de sua publicação em 1974, surgiu um novo conceito sobre performance e desempenho e novos métodos para treinar atletas, considerando os pensamentos que passavam pela cabeça das pessoas e que as impediam de obter os resultados que desejavam. Estes conceitos deram origem a psicologia do esporte e posteriormente foram aderidos também pelo mundo corporativo.

O termo coaching que foi usado pioneiramente por Gallwey no Coaching Esportivo, hoje se estende Coaching de Negócios, Coaching Executivo e Coaching de Vida.

Portanto, para qualquer pessoa que pretenda entender a filosofia do coaching este livro é o ponto de partida.

Nas linhas que se seguem, procuro apresentar uma breve resenha desta obra, focada nos conceitos sobre o funcionamento da mente humana, buscando dar menor enfase no coaching esportivo, sem contudo eliminar totalmente este tópico, visto que este é um livro de coaching esportivo que posteriormente se estendeu as demais áreas.

As duas partes do jogo

Timothy afirma que todo jogo é composto por duas partes, a exterior e a interior.

  • Jogo Exterior: Neste jogo, temos um adversário, obstáculos e um objetivo que são externos;
  • Jogo Interior: Este é o jogo que acontece na mente do jogador e é responsável pela falta de concentração, nervosismo, insegurança e auto condenação.

É na mente, portanto, que a excelência de performance é inibida.

O autor defende ainda, que existe um modo natural e eficaz para aprendermos a fazer qualquer coisa, que utiliza capacidades intuitivas da mente e os hemisférios esquerdo e direito do cérebro. No entanto, não acessamos este recursos e portanto, precisamos desaprender os hábitos que interferem neste processo de modo que ele flua naturalmente, nos permitindo deste modo, explorar todo o nosso potencial.

Aprendizado natural

Ao longo da narrativa são apresentados alguns conceitos sobre como funciona o aprendizado natural dos seres humanos. São elas:

  • Visualização: A primeira técnica de aprendizado explorada por Timothy, seria a visualização. Ele orienta que antes de executar um movimento seria importante visualizá-lo de forma repetida em sua mente e em seguida deixar o corpo imitar o movimento visualizado.

... que as imagens são as melhores palavras, que mostrar é melhor do que falar, que muita instrução é pior do que nenhuma e que o esforço excessivo gera resultados negativos. _ W. Thimoty Galley

  • Consciência livre de julgamentos: A segunda técnica seria silenciar a mente, agir sem o barulho mental, sem a voz crítica e sem tentativa de controlar a situação.
    Neste estado, o individuo experimenta um nível de concentração no agora, que torna sua mente tranquila e focada, evitando distrações e avaliações do próprio desempenho ou como seus movimentos acontecem.

Portanto, aprender a se concentrar e ter autoconfiança, seria mais importante do que aprender técnicas do jogo, pois com concentração e autoconfiança a técnica fluiria naturalmente.

Em outras palavras, para obter o seu melhor desempenho, o jogador precisa jogar sem julgar ou criticar, pois com este silencio mental a concentração virá naturalmente e o bom desempenho será uma consequência natural.

Ele está consciente, mas não esta se esforçando para acertar. (...) Ele se associa ao que o corpo esta fazendo, e as funções automáticas e inconscientes começam a ser executadas sem a necessidade do pensamento. _ W. Thimoty Galle

  • Não generalizar: Ao realizar uma ação equivocada, ou cometer um erro, o Ser 1 tem a tendência de generalizar, fazendo afirmações negativas sobre si mesmo como "eu sempre erro", "eu sou muito lento", "eu sou um fracasso" e coisas do tipo, sempre pegando um acontecimento isolado e o tornando evidência para criar uma definição generalista sobre si mesmo, de modo a esquecer todas as outras evidências positivas e assertos.
    No entanto, o caminho para a assertividade é justamente o oposto e consiste em não permitir que julgamentos feitos pela mente se estendam, pois se isto acontecer, eles se tornaram profecias autorrealizáveis. Isto porque, a comunicação do Ser 1 direcionada ao Ser 2 feita de forma repetitiva e insistente acabam por se tornarem expectativas e convicções e então, o Ser 2 começa a viver essas expectativas como se fossem um personagem para o qual foi programado a interpretar e desta maneira, seu verdadeiro potencial é escondido.

Em resumo, você começa a se transformar naquilo que está pensando. _ W. Timoth Galle

  • Clareza: A clareza é resultado dos passos anteriores, consiste em uma capacidade de observação descritiva, livre de julgamentos, críticas e generalizações em relação ao que ocorre. Resulta em entendimento e aprendizado.

Quando capazes de entender "o que" esta acontecendo de verdade, nos tornamos capazes de chegar aos "como" devemos agir.

A maioria de nós, não está vendo com clareza, por estar tomado pelo barulho de pensamentos promovidos pelo Ser 1.

Em outras palavras, por meio da livre observação, a melhora acontece naturalmente.

Quando a mente está livre de pensamentos ou avaliações, ela age como um espelho. E somente nestes momentos podemos perceber as coisas como elas realmente são. _ Timothy Galley

Para alcançar este processo de aprendizado natural é necessário abandonar o antigo método de correção de erros. A verdade não é uma divisão entre certo e errado, mas sim uma compreensão plena do que realmente ocorre, de forma atenta.

Os dois seres 

Observando o hábito dos tenistas de falar consigo mesmo na quadra, advertindo-se e criticando-se, Timothy compreendeu a existência de dois "seres" em cada indivíduo, que nomeou de Ser 1 (Selfie 1) e Ser 2 (Selfie 2). A saber:

  • Ser 1: (Eu) Ego. Mente consciente. Crítico Interno. Aquele que dá instruções e avalia os resultados;
  • Ser 2: (Comingo Mesmo) Potencial. Capacidades e Dons. Habilidade natural. Intuição. Execução.

Observou também, que o tipo de relacionamento que cada indivíduo cultivava entre o Ser 1 e o Ser 2 determinava sua assertividade.

De modo geral, era comum que neste diálogo interno houvesse uma crítica ao Ser 2, Timothy afirma: O Ser 1, ... Ele deve dar as instruções, e não executá-las. Mas parece que ele não confia muito no Ser 2 e acaba assumindo todo o trabalho.

Então, o autor apresenta a Arte da Concentração Relaxada, afirmando que o bom desempenho esta relacionado a três habilidades interiores desta arte. São elas:

  • Ter uma clara visualização dos resultados desejados;
  • Confiar no bom desempenho do Ser 2 e aprender com seus sucessos e fracassos;
  • Observar "imparcialmente" - ou seja, ver o que está acontecendo, mas não avaliar se aquilo é bom ou ruim.

Timothy aponta ainda, a importância de estabelecermos uma comunicação mais saudável e equilibrada entre estes dois seres. Em sua observação o Ser 1 sempre se comunica com o Ser 2 por meio de críticas e depreciação, no entanto, o caminho oposto é mais efetivo, não se deve diminuir o Ser 2, mas antes, entendê-lo como superior e mais sábio, visto sua inteligência natural e capacidades.

Tratar o Ser 2 com todo o respeito que ele merece permite que ele atinja sua plenitude.

Silenciando o Ser 1

O Ser 1, é o constante pensamento ativo, o ego. Este ser interfere a todo momento com pensamentos, fazendo com que o estado inconsciente se perca no excesso de cálculos e o indivíduo erre. A vitória estaria portanto, em lidar com os conceitos negativos que inibem o processo de desenvolvimento natural.

O homem adora a reflexão, mas as grandes conquistas acontecem quando não há muito cálculo e raciocínio. É necessário voltar a agir como criança... _ W. Timothy Galley

Acessar as habilidades do Ser 2, requer portanto, acessar um estado inconsciente de espontaneidade, que resulta da prática de silenciar a mente, evitar pensar, calcular, julgar, preocupar-se, temer, ansiar, testar, arrepender-se, controlar, agitar-se ou distrair-se. Esquecer este processo de autoavaliação, de julgar o desempenho como bom, ou ruim, abandonando a autocrítica é muito importante para um bom desempenho.

O autor cita o psicologo humanista Dr. Abraham Maslow, apontando que neste estado de mente tranquila e silenciosa ocorre uma harmônia entre o Ser 1 e o Ser 2, de modo que se tornam único em sinergia com a experiência vivida e por assim ser o indivíduo é capaz de obter os seguintes resultados positivos:

  • Sente-se no auge de seus poderes;
  • Sente-se completamente funcional;
  • O esforço é menor;
  • Torne-se livre de qualquer bloqueio, inibição, cautela, medo, dúvida, controle, autocrítica ou impedimento;
  • Torna-se espontâneo e mais criativo;
  • Consegue focar no aqui e agora;
  • Não sente necessidade de algo mais, apenas é.

Durante essas experiências, a mente não age como uma entidade separada, dando instruções sobre o que você deve fazer e julgando o que realizou. Ela está quieta, você está "unido", e sua ação flui livremente como um rio. _ W. Timothy Galley

Não fazer julgamentos, não significa ignorar erros, mas sim, observar o evento de forma neutra, sem adicionar adjetivos a ele. Timothy afirma que é possível observar sem julgar, não criticando o desempenho, mas identificando suas causas para possíveis ajustes e evolução, sem raiva, frustração ou insegurança.

Em termos simples, é possível descrever o ocorrido, sem críticas e condenações. Isto porque todo julgamento resulta em tensão e interfere na fluidez necessária para um bom desempenho. Já o relaxamento por sua vez, gera aceitação.

Os erros que cometemos podem ser vistos como parte importante do processo de desenvolvimento. Nosso jogo melhora a cada erro. Até as crises mais sérias ajudam no processo. _ W. Timothy Galley

Valorizamos muito a razão e negligenciamos o sentir. Ao se referir ao processo do jogo de tênis, Timothy aponta a importância de sentir a bola, mais do que pensar sobre o onde ela deveria estar ou o que deveria ou não fazer. Apenas sentir!

Um fato curioso citado pelo autor, que contraria nossas crenças enraizadas, é que mesmo o elogio é uma crítica, ao elogiar estamos julgando algo como bom e sendo uma crítica não é positiva, pois tenderá a fortalecer o Ser 1 e desviará o indivíduo do foco inconsciente. Ao ser elogiado, ele deixará de sentir e passará a refletir sobre sua performance e seus comos perdendo assim o foco e seu desempenho tenderá a cair.

Isto porque, o Ser 1 esta sempre em busca de aprovação e evitando críticas, e portanto, o elogio também soa como uma ameaça, pois pode se transformar em fracasso.

Funciona assim: "Se o instrutor ficou feliz com um determinado desempenho, ele ficará triste com seu oposto. Se ele gosta de mim por ter feito algo bem, ele não vai gostar de mim se for mal. O padrão de bom e ruim fica estabelecido, e o resultado inevitável é uma concentração comprometida pela interferência do ego. _ W. Timoty Galley

Isto não significa contudo, que não possamos ou não devamos reconhecer as próprias qualidades, esforços e conquistas, pois isto pode facilitar o aprendizado natural, afinal, o reconhecimento e o respeito pelas qualidades contribuem com a confiança do Ser 2.

Portanto, para ver as coisas, como elas realmente são, não se deve atribuir qualidades a elas, nem negativas, nem positivas. Deste modo, não seria necessária motivação para mudar os hábitos, seria necessário apenas estarmos conscientes deles.

Desvendando o Ser 2

Nosso corpo é regido em sua maior parte por processos inconscientes como a captação de imagens pelos olhos, batimentos cardíacos, funcionamento de órgãos, glândulas e músculos. Tudo isto é coordenado pelo Ser 2, que é composto pelo corpo físico, memórias (consciente e inconsciente) e pelo sistema nervoso.

A verdade é que todos que habitam um corpo já são donos de uma ferramenta incrível.

Baseado nisso, parece inapropriado depreciar nosso corpo. O Ser 2 - que é o corpo físico, incluindo o cérebro, a memória (consciente e inconsciente) e o sistema nervoso - é um sofisticado conjunto de potencialidades. Ele possui uma inteligência interior impressionante, que aprende novas ações com a mesma facilidade de uma criança. Ele usa bilhões de células e comunicações nervosas para executar suas ações.  _ W. Timothy Galley

 O Ser 1, tende a ignorar a capacidade do Ser 2, e isto tende a afetar a autoconfiança, neste sentido, é importante que se estabeleça uma relação de confiança interna, ou seja, que se confie em si mesmo. Não são necessários grandes esforços para aprender e adquirir bom desempenho, é necessário apenas deixar fluir.

Este processo de deixar fluir o aprendizado e a performance, segundo W. Timothy Galley, se dá por meio da observação, visualização e do sentir.

Ao observar um processo/movimento, visualizo ele em minha mente e então pratico em um processo de imitação e assim sinto o processo/movimento em minha mente e em meu corpo, até que seja totalmente tomado pela ação.

O Ser 2 se comunica por meio de imagens sensoriais, esta é sua língua nativa, pois as palavras não eram conhecidas em seu primeiros anos de vida. Ele aprende por meio de imagens, que podem ser vistas e sentidas.

Logo, se deseja que o Ser 2 adote um determinado comportamento, ensine-o por meio de imagens observadas, visualizadas e sentidas. Em outras palavras, se deseja obter resultados, dê ao Ser 2 uma imagem clara dos resultados que você deseja conquistar e deixe que ele faça o resto.

O Ser 1 por sua vez deve estar relaxado, deixando de lado o ímpeto de dar instruções e controlar os golpes para que a confiança do Ser 2 cresça.

Vejamos o passo-a-passo:

  • Dê ao Ser 2 uma imagem clara do que você quer que ele faça;
  • Grave esta imagem, feche os olhos e visualize;
  • Confie no seu corpo (Ser 2) e deixe acontecer. Vivencie a prática;
  • Repita a visualização mental até que você acerte, livrando-se de qualquer reação emocional, seja ela positiva ou negativa, foco apenas o resultado desejado por meio da visualização sem tentar corrigir-se;
  • Observe as mudanças e a evolução sem tentar interferir ou ajudar, apenas deixe fluir.

Contrariando a tudo que conhecemos até aqui, a dica é dar o menor número de instruções possível e seguir apenas o passo-a-passo acima, quanto menor o número de instruções, mais fácil será o aprendizado natural.

Nosso erro segundo o autor, foi justamente deixar que o Ser 1 assumisse o controle, nos deixando tomar em excesso pela linguagem, pois desta maneira nos tornamos máquinas obedientes ao invés de seres humanos, perdemos nossa memória muscular que carrega o conhecimento sobre a ação desejada.

A comunicação autoritária, diretiva, amedronta o Ser 2 e portanto, inibe seu conhecimento intuitivo. A instrução verbal não esta associada ao banco de memórias do Ser 2, provocando uma separação entre teoria e ação.

O aprendizado para o Ser 2 é natural e divertido, portanto, permita-se brincar enquanto aprende.

A palavra-chave é deixar. Confie na competência de seu corpo e de seu cérebro e deixe que eles movimentem a raquete. _ Timothy Galley

Processo de Mudança

O processo de coaching, seria por tanto, uma ferramenta para reduzir as auto-interferências originadas pelo Ser 1, de modo a ampliar a confiança e performance do Ser 2, otimizando assim a performance do indivíduo nas diferentes áreas da vida.

É um processo de resgate do processo natural de aprendizado, através do qual, o indivíduo se torna cada vez mais capaz de aprender com suas experiências desta maneira ampliar o seu desenvolvimento pessoal.

Aprender, neste contexto, é tornar-se capaz de mudar comportamentos e padrões de raciocínio adotando novas maneiras e opções mais eficazes.

Neste processo de aprendizado e evolução pessoal, não é útil criticar os hábitos atuais, mas antes, observá-los afim de entender quais as funções exercidas por tais hábitos, qual a sua utilidade. O próximo passo será buscar alternativas, buscando uma maneira melhor de chegar ao objetivo desejado de forma mais positiva e eficaz.

A evolução pessoal acontece portanto, por meio da substituição de hábitos negativos, por outros hábitos positivos que tragam o mesmo resultado desejado.

Outro fator importante a ser considerado, é que aprendemos por repetição, sempre que praticamos um determinado comportamento, criamos padrões (ou rastros) que favorecem a repetição do comportamento em questão. Nas palavras do autor, é como se nosso sistema nervoso gravasse tudo o que processa. De modo que toda vez que executamos uma determinada ação, registramos essa ação em nosso cérebro.

Pela repetição o rastro se torna cada vez mais profundo até que tal comportamento seja automatizado e se torna uma parte intrínseca do individuo.  Isto se dá, porque tal hábito serve a alguma função, logo ele tende a ser reforçado e assim continuar.

Entendendo isto, torna-se claro, porque é tão difícil livrar-se de um antigo hábito, e aqui esta o segredo, não costuma ser efetivo lugar contra um hábito, pois ao tentar combatê-lo a tendência é que se foque neste hábito e desta maneira o fortalece. A dica, portanto, é criar novos hábitos ao invés de combater os antigos.

Portanto, se deseja mudar algo em sua vida, para de lutar contra isto e desenvolva o hábito positivo oposto.

Timothy aponta que aprender é um processo natural e portanto leve, espontâneo e comenta que nosso ego interfere neste processo, porque tem a necessidade de suprir sua vaidade, de sentir que tem mérito por sua conquista em razão de seu esforço. Isto porque, deixar-se guiar pelo instinto e aprender de forma natural faz parecer que não existe mérito em seu resultado.

O Ser 2 busca apenas ser, viver, fazer, estar presente no aqui e agora, esta livre das artimanhas do ego e por este motivo flui mais livremente.

Aprendendo a ter foco

Aprender a ter foco é segundo Timothy a arte de deixar o jogo acontecer, e isto não se dá por meio de uma ordem racional. O autor cita que mesmo após vivenciar os benefícios de fluir no Ser 2, com a mente calma, os jogadores tem a impressão de que este é um estado ilusório.

Logo, percebemos que o processo de isolar o Ser 1 não é algo fácil, neste caso, é preciso  ocupá-lo com algo, deixá-la focada em estado de relaxamento concentrado e isto exige prática.

É possível praticar o relaxamento concentrado a todo momento, direcionando a observação para aquilo que esta acontecendo no presente.

Supor que não sabemos e observar de forma curiosa e investigativa é um dos caminhos para aprender a manter o foco. Outro recurso, é observar as questões visuais, ouvir os sons, sentir a experiência, empregando todos os seus sentidos neste momento.

Muito de nossa energia é desperdiçada com o passado ou com o futuro, quando entramos no modo "e se ..." imaginando como seria se os eventos tivessem acontecendo de forma diferente no passado, ou se acontecerem outras coisas no futuro, nos distraindo desta maneira do que pode ser vivenciado no presente.

A orientação é que apenas pela prática de ,vivenciar o presente facilitar este processo de foco, portanto, nas palavras do autor, sempre que a mente der indícios de que vai escapar, traga-a de volta.

Uma boa ferramenta para praticar o foco, é focar na respiração, observando o ato de inspirar e expirar o ar, no ritmo natural. Ao fazer isto, colocamos a concentração em algo intimamente conectado a energia vital do corpo. "Dizem que o homem recapitula o ritmo do universo por meio da respiração" e portanto, quando a mente entra neste ritmo ela fica absorta e calma.

Estar presente nos livra das mágoas do passado e da ansiedade pelo futuro.

E quando permitimos que a atenção fique concentrada, ganhamos conhecimento sobre o objeto em foco. Atenção é consciência focada, e a consciência focada nos dá o poder do conhecimento. 

(...) A luz da consciência pode ser direcionada tanto para objetos externos, acessados via sentidos, quanto para sentimentos ou pensamentos internos. _ W. Timothy Galley

Podemos concluir portanto, que um estado de foco, é um estado em que o Ser 2 esta no controle, sem as interferências do Ser 1. Neste estado, existe uma consciência mais vívida, sentimento de harmonia, equilíbrio, estabilidade, paz e contentamento.

Para descrever com exatidão a presença do Ser 2 decidi transcrever um trecho da página 120 desta obra, que me parece perfeita demais para ser resenhada:

Eu costumava pensar que aquele estado era efêmero e que logo não poderia mais contar com ele. Mas agora sei que ele está sempre lá. Quem o deixa sou eu.

Quando vejo uma criança pequena, percebo que seu Ser 2 está á o tempo todo. Quando a criança cresce, sua mente fica mais distraída, e é mais difícil identificar o seu Ser 2. Mas ele sempre esteve lá, e sempre estará lá. Por toda a sua vida. Os pensamentos vêm e vão, mas o ser da criança, aquele ser verdadeiro, vai estar lá pelo tempo que você estiver respirando. E aproveitar a sua presença é o presente que o foco nos dá.

O que é jogar bem?

Grande parte de nossa dificuldade em evoluir em nossos resultados esta no fato de confundirmos nossa identidade com nossos resultados. Mas Timothy nos confronta com a pergunta: Quem disse que devemos ser avaliado por nossos resultados?

É a partir da compreensão de que o valor de uma pessoa não pode ser avaliado por seu desempenho ou performance que caminhamos para a compreensão de que somos o que somos e não o que nosso desempenho mostra.

O autor afirma que não exploramos todo o nosso potencial porque estamos excessivamente envolvidos com o jogo da perfeição, fruto da necessidade de provar algo a si mesmo e talvez aos outros.

Quando o desempenho esta atrelado ao senso de identidade do indivíduo ele pode se sentir paralisado pelo medo de errar, pois o erro seria um rótulo de fracasso e isto o faria sentir-se incapaz. Vemos então, muitas pessoas que nem tentam, que ficam paralisadas pelo medo de errar.

Temos também o desafio da competição que é um assunto bastante controverso, um segmento da sociedade considera a competição importante, outro segmento defende ser algo ruim por estabelecer superioridade entre uma pessoa e outra. De fato, a necessidade de autoafirmação é uma demonstração de insegurança e dúvida e não pode ser positivo.

Todos estes comportamentos limitantes citados anteriormente, são resultantes do fato de o Ser 1 estar no comando criticando e julgando.

Tim, no entanto, aponta a competição sobre uma nova perspectiva, a perspectiva do Ser 2, que opera livre do medo de não satisfazer as expectativas e por este motivo não compara o próprio desempenho com o desempenho do adversário, mas antes, foca sua atenção exclusivamente no movimento. Neste modo, o indivíduo esta conectado a sua sabedoria interior.

O próprio Tim admite que no passado enxergava a competição como algo ruim, que exteriorizava o pior das pessoas. Porém, aprendeu que competir é superar obstáculos, superar o próprio potencial. Nesta perspectiva, o adversário não seria um inimigo, mas um treinador, alguém que oferece obstáculos para que você supere e então se aperfeiçoe.

Logo, não existe competição, todo jogo seria um processo de cooperação, que testa os limites do outro e o força a evoluir. Deste modo, nenhuma pessoa é de fato derrotada, mas ambos os jogadores se beneficiam com o processo do jogo, um participa do desenvolvimento do outro.

A função do adversário é identificar nossos pontos fracos e explorá-los forçando assim nossa evolução.

Tim narra, que com esta compreensão, deixou de sentir-se culpado por suas vitórias, e passou a desfrutar mais delas.

Vencer é superar obstáculos para chegar a um objetivo, mas o valor da vitória é só equivalente ao valor do objetivo atingido. Alcançar o objetivo isoladamente não pode ser tão recompensador quanto a experiência que se adquire ao superar os obstáculos envolvidos no processo. _ W. Timothy Galley

O jogo interior fora das quadras

Como vimos até aqui, em resumo, o autor nos ensina que nos preocupamos demais e não nos concentramos bem. Isto se deve ao fato de nos deixarmos guiar pelas críticas e julgamentos do Ser 1, em detrimento do potencial natural intuitivo do Ser 2.

O bem-estar e alta performance seriam resultantes do equilíbrio entre estes dois seres, que resultada da concentração relaxada, ou seja, da capacidade de ter foco direcionado ao presente, sem mágoas do passado ou ansiedades pelo futuro.

O jogo interior seria portanto, um jogo contra obstáculos mentais e emocionais, que busca a recompensa do conhecimento interior e da expressão do verdadeiro potencial do indivíduo, conforme pontua Tim. Isto se aplica a quase totalidade das atividades que desempenhamos, estaremos sempre enfrentando obstáculos externos e internos e o desafio será controlar o Ser 1 para que ele não produza medos, dúvidas e desilusões por meio da autocrítica, isto favorecerá a habilidade de enfrentar as dificuldades que surgirem no curso da vida.

Isto porque, o Ser 1 tende a distorcer a percepção sobre os eventos, conduzindo a ações equivocadas que nos prendem a um circulo vicioso de fracasso. Ainda assim, ele sempre buscará fortalecer-se, nosso desafio portanto, é motivar o Ser 2, pois quanto mais forte ele ficar, mais difícil será desestabilizá-lo.

O segredo é se deixar guiar pelo Ser 2 e por seu desejo de diversão, aprendizado, entendimento, apreciação, busca, descanso, saúde, liberdade, expressão e manifestação da contribuição pessoal.

Tim afirma que um sentimento de satisfação atinge a pessoa sempre que ela está em sincronia com seu ser. Neste sentido, o maior desafio seria aprender a distinguir as necessidades interiores do Ser 2 das demandas exteriores que foram "internalizadas" pelo Ser 1 e se tornaram tão familiares que parecem ser parte da identidade.

Um bom caminho é identificar quais demandas nos deixam estressados, estas certamente não seriam nossas, mas seriam parte do repertório adquirido.

Em contrapartida, o estresse seria eliminado a medida que aprendemos a dar vasão ao nosso verdadeiro ser e aproveitando cada momento.

Deste modo, não é necessário melhora-nos, precisamos apenas livrar-nos das interferências deixando que nossa verdade interior se manifeste. E isto se dá através da Atenção Plena, que é a capacidade de focar a mente e não deixá-la escapar.

Talvez a sabedoria não esteja em encontrar respostas novas, mas sim em reconhecer uma maior profundidade das respostas que já existem. _ W. Timothy Galley

Confira no vídeo a seguir breve comentário de W. Timothy Galley sobre os conceitos do Jogo Interior do Tênis...

Nenhum professor é maior do que sua própria experiência. _ W. Timothy Galley


Em amor,

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