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Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha. Bebendo do vinho, embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda. Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então, Sem e Jafé tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem. Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço e disse:
Maldito seja Canaã; seja servo dos seus irmãos.
E ajuntou: Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo.
Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.
_ Gênesis 9:20-27

Acho esta passagem da vida de Noé bastante interessante, pela oportunidade que ela nos traz de reflexão e de aprendizado sobre as fraquezas humanas, nossas relações e as escolhas que fazemos diante das situações vividas.
O patriarca Noé, aquele que havia sido escolhido para ser o novo Adão por sua justiça, integridade e temor a Deus, estava em uma situação vexatória, ela havia se embriagado e estava nu em sua tenda, seu filho mais novo vendo a situação do pai, espalhou a notícia para fora da tenda, chamando os irmãos para ver e assim promovendo a humilhação do pai diante da família.
A primeira compreensão que temos a partir desta história é sobre a humanidade de Noé, que embora fosse um homem de boa índole, também tinha suas fraquezas e limitações, afinal, ele era sujeito as mesmas paixões do ego, contra as quais lutamos.
Me lembro que, certa vez, eu estava lecionando uma aula sobre desenvolvimento de liderança no Senac e citei alguns exemplos de grandes líderes da história, quando mencionei Gandhi, um líder a quem eu admiro, um aluno me interrompeu contando sobre suas pesquisas e descobertas sobre as sombras da vida deste líder.
Achei esta situação curiosa, porque me fez refletir, sobre como nós temos a expectativa de que um grande líder, seja alguém acima do bem e do mal, que venceu todas as limitações do ego. No entanto, a história bíblica e secular nos mostra, que homens bons também tem suas fraquezas, suas lutas interiores e podem nos decepcionar em algum momento.
Sem dúvida, nos decepciona ver Noé, o grande patriarca, em uma situação vexatória em que perdeu o autocontrole e se expôs diante dos filhos. No entanto, este entendimento, de que todos nós temos ego e essência, e de que em algum momento, podemos cruzar um com o ego do outro, nos torna mais flexíveis em relação as expectativas que construímos em relação a líderes, familiares e pessoas do nosso circulo de relacionamento.
Só existe um homem que foi perfeito em todos os seus caminhos e este foi Jesus, ele é nossa referência de comportamento, todos os demais embora tenham coisas boas a nos ensinar, em algum momento poderão falhar, porque estão sujeitos as paixões do ego.
Um segundo aprendizado que observo nesta história, é que diante de uma mesma situação, os filhos de Noé tiveram reações completamente diferentes. Enquanto um dos filhos observa a situação e sai para fora da tenda para falar sobre o que viu, os outros vão até o pai, a fim de resgatá-lo daquela situação.
Acho mais interessante ainda observar que os filhos mais velhos não apenas cobrem a nudez do pai, como desviam seu olhar para não olharem para o pai naquela situação. Que atitude admirável!
Neste contexto, observamos que, a questão não é se as pessoas serão pegas em momentos de fraqueza ou não, porque isto provavelmente acontecerá, cedo ou tarde em nossas interações teremos contato com a fraqueza alheia. No entanto, a questão é, como escolheremos reagir diante desta descoberta.
Será que quando somos expostos a fraqueza do outro aproveitamos como oportunidade de ironia, de vingança e levamos isto a público? Ou será que, temos a nobreza de carácter de desviar o nosso olhar daquilo que depõe contra o outro a fim de ajudá-lo a sair da situação em que se encontra?
O que o filho mais novo de Noé fez, foi expor o pai a desonra ao difamá-lo espalhando a notícia de sua embriagues e de sua nudez.
O dicionário Aulete Digital define DIFAMAÇÃO como uma imputação contra a honra e a reputação de alguém com intenção de gerar descrédito em relação a esta pessoa junto a opinião pública.
A difamação é portanto, uma notícia negativa que denigre o outro e que decidimos de forma consciente espalhar, é um comportamento negativo que fazemos questão de expor.
O contrário da difamação é a dignificação, exemplificada na atitude dos filhos mais velhos que devolveram a honra a seu pai ao cobri-lo e tapar os olhos para não vê-lo em seu momento de vulnerabilidade.
O apóstolo Mateus apresenta uma orientação de comportamento para situações similares, quando tendo conhecido a fraqueza do outro, devemos decidir como agir e ele ensina:
Se o seu irmão pecar contra você, vá e repreenda-o em particular. Se ele ouvir, você ganhou o seu irmão. 
Mas, se não ouvir, leve ainda com você uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda questão seja decidida.
E, se ele se recusar a ouvir essas pessoas, exponha o assunto à igreja; e, se ele se recusar a ouvir também a igreja, considere-o como gentio e publicano. (Mateus 18:18-17)
Uma sábia orientação, nos apontando que, o primeiro passo é resolver a questão com a pessoa, com o objetivo de resgatá-la do seu erro, e que testemunhas devem ser envolvidas com este mesmo objetivo de resgate. No caso de esta tentativa de resgate não surgir efeito, só então, deveremos entregar esta pessoa a suas próprias escolhas, a enxergando como alguém com quem não temos comunhão de valores e que será portanto excluída de nossa convivência.
Novamente temos diante de nós uma escolha sobre seguir a pulsão de morte que nos conduz a expor o erro do outro, utilizando a fraqueza alheia como ferramenta de destruição, ou seguir a pulsão de vida e devolver ao outro a dignidade, protegendo-o de si mesmo quando vitimado por seu ego e assim alertá-lo em relação ao seu erro.
Certa vez, alertando sobre o final dos tempos e sobre a eternidade, Jesus prevê que no julgamento final ele ordenará que se afastem dele aqueles que quando ele esteve nu não o vestiram, que quando ele sentiu fome não o deram de comer, que quando ele esteve preso não foram visitá-lo. Ele explica então, que estas pessoas questionarão sobre quando Jesus esteve nesta situação, e aí esta nossa grande lição, Jesus afirma, que cada vez que agimos de forma empática com qualquer ser humano, cada vez que devolvemos a dignidade a um de nossos irmãos, estamos fazendo isto ao próprio Deus (Mateus 25:42-45).
Em uma outra passagem, Jesus usa uma linguagem simbólica, afirmando que Ele é a videira e nós somos os ramos (João 15:5), revelando que somos interdependentes, que fazemos parte uns dos outros, somos a grande família de Deus, de modo que, é impossível ferir alguém sem ferir-se a si mesmo.
Voltando a história de Adão e Eva, observamos que todas as escolhas destes nossos antepassados repercutiram em toda a humanidade.
O homem bondoso faz bem a si mesmo, mas o cruel a si mesmo se fere. _ Provérbios 11:17
Um aprendizado, completamente aplicável a nossa realidade, que nos remete a valores éticos acerca de como lidar com a fraqueza de nossos líderes, com os erros que cometem contra nós e sobre qual deve ser o propósito da nossa interação diante do erro do outro. Nosso objetivo deve ser sempre o resgate e a reparação da dignidade do outro, pois se resgatamos o nosso irmão do erro, também nos resgatamos da dor que o erro dele nos causa e assim, ambos alcançamos cura.
Empatia é uma palavra que cabe muito bem aqui, nos trazendo uma reflexão sobre como nós gostaríamos de ser tratados caso nos pegassem em uma situação negativa.
Seja benevolente com a fraqueza do outro, interaja com ele a fim de ajudá-lo a sair da situação em que se encontra, de despertá-lo do seu equivoco.
Não use a fraqueza do outro para promover humilhação ou para o seu próprio benefício, pois estes são comportamentos egoicos, são frutos da pulsão de morte dentro de você e cabe a você dominá-la.
Nós podemos escolher agir como os filhos mais velhos, aqueles que protegem e tapam os olhos para não ver a vulnerabilidade do outro, que não tem interesse na fraqueza alheia.
O impressionante é que nós realmente amamos o próximo como a nós mesmos: fazemos aos outros aquilo que fazemos a nós. Nós os odiamos quando nos odiamos, nós somos tolerantes com eles quando toleramos a nós mesmos. _ Eric Hoffer
A história termina com o pai abençoando os filhos mais velhos por terem o poupado da vergonha e amaldiçoando o filho mais novo por ter promovido a sua desonra.
Não pretendo entrar no mérito do comportamento de Noé sobre a benção e a maldição, mas sim, me atentar a oportunidade de aprendizado que esta reação nos traz, considerando que é fato que, quando usamos de benevolência para com o outro, atraímos benção sobre as nossas vidas. No entanto, quando usamos de escarnio, ironia e geramos difamação para o outro, atraímos desonra e maldição sobre nós mesmos.
Me toca muito a história de Moisés e Arão, Moisés era o líder, mas haviam áreas em que ele era vulnerável, ele tinha dificuldade em sua comunicação, então Arão o acompanhava e falava por ele.
Quando Moisés estava sendo ferramenta de Deus para manter o mar vermelho aberto, ele foi orientado a manter os seus braços para cima, no entanto, quando os braços de Moisés estavam cansados, Arão foi lá e o apoiou segurando os braços dele para cima.
Só existe uma maneira de despertar nossos irmãos dos momentos em que são tocados pelo ego, nós precisamos acessar a nossa essência, tocá-los com a sabedoria, chamando-os assim de volta a sanidade.
Ego fortalece ego, apenas o espírito pode combater as obras da carne!
Precisamos sair da postura de juízes, abandonar a cobrança e sermos aqueles que seguram os braços dos cansados.

Versículo para Memorizar:
Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei.
_ 1 Pedro 2:17

Perguntas para reflexão:
- Quais tem sido os seus comportamentos diante das fraquezas de seus líderes familiares, líderes espirituais e líderes profissionais?
- Quais tem sido os seus comportamentos diante das fraquezas das pessoas do seu circulo de relacionamento?
- Existe alguém a quem você tem difamado? Como você poderia despertar esta pessoa do seu erro devolvendo a ela a sua dignidade?

Oração:
Deus, Nosso Pai. Eu compreendo que o seu plano é que vivamos como uma grande família e tratemos uns aos outros com amor.
Eu oro para que o seu amor seja manifesto em minha vida, de forma que eu possa oferecer amor aos que me cercam e agir com empatia e benevolência diante da fraqueza do outro, considerando a todos como irmãos, parte da família de Deus.
Ajuda-me a ser aquela que desperta as pessoas de seus erros, sem expor ou difamar ao meu próximo.
Em nome de Jesus. Amém!

Declaração de fé:
Eu desvio os meus olhos daquilo que envergonha o meu próximo e ofereço ajuda aqueles que se encontram em momentos de fraqueza.


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